Autismo será diagnosticado por imagem facial em 3D
Dr. Estevão Vadasz
Neste exato momento está ocorrendo uma corrida tecnológica sem precedentes tendo como objetivo realizar o diagnóstico do autismo o mais precocemente possível e assim iniciar as intervenções terapêuticas o mais cedo possível (mais ou menos com um ano e meio). Diagnóstico + intervenção precoce = bom prognóstico.
O autismo é um transtorno extremamente complexo, de difícil diagnóstico e alto custo, constituído por um espectro muito amplo e heterogêneo: de casos muito graves (baixo funcionamento) até casos muito leves (síndrome de Asperger) e todas as variações possíveis entre esses dois extremos.
Apenas para ilustrar: convivemos no Brasil com 2.000.000 de autistas não diagnosticados, totalmente desassistidos e abandonados pelo estado, excluídos do sistema de saúde e educação e sem acesso ao mercado de trabalho. Para diagnosticar essa população imensa necessitaríamos de milhares de profissionais especializados (não dispomos) utilizando recursos clínicos e psicométricos (testes) durante décadas para atender toda essa demanda reprimida, sem a infraestrutura assistencial necessária (totalmente inexistente).
Porque recorrer à tecnologia?
Exatamente para transpor esse fosso de carências intransponíveis e insuperáveis, para agilizar o diagnóstico, baixar custos e iniciar o tratamento mais precocemente possível (com auxílio de tecnologia) já que não dispomos de recursos humanos e materiais para uma empreitada de tal magnitude.
Existem várias tecnologias em desenvolvimento, ao longo do ano postarei várias delas em meu blog.
Hoje o foco será sobre uma pesquisa que vem sendo desenvolvida pelos Drs. Ye Duan e Judith Miles, da Universidade de Missouri, e publicada na semana passada no Journal of Autism and Developmental Disorders.
Trata-se de uma sofisticada tecnologia de ponta que registra imagens faciais de indivíduos autistas em 3D, imagens estas submetidas em seguida a uma sofisticada análise estatística que mede todos os detalhes da superfície e estrutura facial nos seus mínimos detalhes. Confrontadas com um grupo controle constituído por crianças ''normais'' (de 8 a 12 anos) as imagens evidenciaram alterações morfológicas (dismorfismos craniofaciais), alterações morfológicas estas que vem há décadas sendo observadas pelos olhos experientes de especialistas em autismo.
Além de, potencialmente, permitir o diagnóstico de autismo através do exame de imagem essa nova tecnologia permitirá também, baseadas em estruturas faciais particulares, constituir subgrupos etiológicos (causais) que facilitarão a condução de pesquisas genéticas mais objetivas e direcionadas.
Referência: ''Facial Structure Analysis separates Autism Spectrum Disorders into Meaningful Clinical Subgrups'' – Journal of Autism and Developmental Disorders.