Autismo e a Arca de Noé – Pet Terapia
Dr. Estevão Vadasz
Em 30/12/14 o media center da Universidade do Missouri divulgou um press release a respeito de um trabalho realizado em sua Faculdade de Veterinária pela pesquisadora Gretchen Carlisle e publicado no Journal of Autism and Developmental Disorders. Para realizar a pesquisa a Dra. Carlisle avaliou 70 famílias com filhos portadores de autismo, na faixa dos 8 aos 18 anos, em atendimento no Thompson Center for Autism and Neurodevelopmental Disorders.
O objetivo era avaliar a influência da convivência desses jovens com seus pets (animais de estimação). A maioria das famílias possuía cachorros e gatos. Algumas possuíam peixes, roedores, coelhos, répteis, pássaros e até uma aranha. A Dra. Carlisle concluiu que todos os pets e não apenas os cães promoviam uma melhora considerável na sociabilidade dos jovens autistas.
Há mais de 5 anos a Dra. Marisol M. Sendim, o fisioterapeuta Vinicius F. Ribeiro, fundador do TAC (Terapias Assistidas por Cães) e eu, introduzimos no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas um projeto inédito até então: intervenções terapêuticas mediadas por cães no hospital-dia, enfermaria e ambulatório. O sucesso, o encantamento junto aos pacientes e familiares foi imediato.
Ao contrário dos pets (animais de estimação) nossos cães são ''trabalhadores profissionais'', passam por um longo e rigoroso treinamento para desempenhar várias funções especializadas: como cães terapeutas, como cães de assistência ou como cães de companhia. Vários outros animais são usados para fins terapêuticos: cavalos, pôneis, golfinhos, elefantes, macacos e até alpacas (cospem quando mal-humorados) porém nenhum supera os cães.
Cães estabeleceram com os seres humanos um relacionamento especialíssimo ao longo de mais de 100.000 anos, são milhares de anos de amizade, companheirismo, amor recíproco, incondicional e inabalável. Cães são extremamente inteligentes, ''quase humanos'', capazes de ler nossos pensamentos, nossa linguagem corporal: gestos, posturas e olhares. São tão espertos do ponto de vista evolucionista que adotaram a neotenia (manutenção de características infantis ao longo de toda a sua vida) recurso que derrete o coração mais duro. Quem já não viu um dono chamar seu cão de ''filhinho, nené''?
Baseados nesses fatos e observações, pesquisadores de vários países descobriram um ''aditivo'' bioquímico que sustenta essa parceria: a ocitocina, também chamado de o ''hormônio do amor''. A ocitocina é um neuro-hormônio produzido no hipotálamo e armazenado na glândula pituitária e que promete entrar no arsenal terapêutico para beneficiar portadores de autismo nos próximos anos. A apresentação atual, em spray líquido nasal é ineficaz devido a sua absorção sistêmica (sistema circulatório), disponibilizando para o SNC (sistema nervoso central) uma fração desprezível.
Nova tecnologia desenvolvida por pesquisadores noruegueses (OptiNose) promete acessar o SNC diretamente através de um aplicador de ocitocina em pó depositado nas terminações do nervo olfatório localizados no teto da fossa nasal. É a nossa esperança e de milhares de pais tendo como objetivo melhorar a vida social de nossos autistas.