Planeta Autismo por Dr. Estevão Vadasz

Dois de abril, “Dia Mundial da Conscientizaçao do Autismo”. E no Brasil?

Dr. Estevão Vadasz

Dezoito de dezembro de 2007, a Assembléia Geral das Nações Unidas ( ONU ), decide, por unanimidade, que o dia 2 de abril de cada ano será o ''Dia Mundial da Conscientização do Autismo''. Não é pouca coisa, a ONU patrocina apenas três condições médicas, sendo uma delas o autismo. O objetivo é claro: disseminar informações mundo afora sobre um transtôrno pouco conhecido que afeta 1% da população mundial  ( 70.000.000 de indivíduos ), 2.000.000 no Brasil.

Nesta data as nações devem iluminar de azul seus principais monumentos, promover campanhas informativas, encontros, eventos e manifestações maciças em prol da causa.

O autismo é um transtorno extremamente complexo que se manifesta nos três primeiros anos de vida acompanhando o individuo até a velhice. Compromete a capacidade de comunicação/linguagem, sociabilidade, exibindo ainda comportamentos repetitivos e interesses restritos. Muito heterogêneo em sua apresentação clinica (de muito grave a muito leve) são ''2.000.000 de tons de azul'', nenhum autista é igual a outro, exigindo assim tratamentos específicos, prescritos sob medida, individualizados, administrados por profissionais especializados (médicos, psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e pedagogos – equipe mínima).

A máxima hoje é : diagnóstico precoce + tratamento precoce = melhor prognóstico.

Nos primeiros anos de vida as intervenções terapêuticas podem exigir uma carga de até 20 hs. semanais administradas numa razão de um terapeuta por paciente.

Ao longo dos anos as intervenções terapêuticas serão ajustadas de acordo com as necessidades do paciente levando em conta seu grau de comprometimento.

Objetivos: promover a socialização, escolarização, profissionalização, inserção no mercado de trabalho, acomodação residencial e em raros casos a institucionalização.

E no Brasil? A situação é catastrófica. Dos 2.000.000 de autistas brasileiros menos de 10% foram diagnosticados até o presente momento, e mesmo esses raramente recebem assistência adequada. Destituídos de cidadania, são invisíveis, fantasmas, não existem para o estado, que jamais promoveu uma campanha informativa abrangente. O mais espantoso é o fato da população ter tomado conhecimento do transtorno através de uma personagem de novela veiculada recentemente pela televisão.

Explicações? Incompetência, má gestão da coisa pública. Basta ver a nossa colocação no ranking das nações: 85º lugar (IDH 2013).

Educação? Mal conseguimos alfabetizar as crianças neurotípicas (normais) que dirá crianças autistas que necessitam de métodos pedagógicos especializados aplicados por professores habilitados.

Saúde? Em colapso total, nenhuma unidade especializada em autismo, equipes de saúde que nada sabem sobre o autismo, portanto incapazes de diagnosticar e tratar.

Segurança? Somos campeões mundiais de homicídios em números absolutos (50.000 homicídios por ano). Qual pai ou mãe de autista deixará seu filho ir até a esquina comprar um pãozinho?

Recursos ($)? Zero centavos, (R$ 60.000.000.000,00 para a copa e olimpíadas).

Portanto, tudo de azul para as famílias e profissionais que lutam, militam, participam, exigem o melhor para os autistas brasileiros, só assim conseguirão os recursos necessários para uma assistência digna.